As experiências da infância na permanente formação humana

Entre a expectativa e a ansiedade, aguardo o início de mais uma fase na minha formação humana: o ingresso no Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica, Programa ofertado em Rede Nacional pelos Institutos Federais. Foram cinco meses de preparação para a realização do Exame Nacional e mais dois de muita adrenalina a cada resultado publicado. Nesse processo até a aprovação, o que mais me chamou a atenção foi o conhecimento e o despertar para questões que nunca havia analisado com tal profundidade, o que me levou ao resgate de percepções captadas lá na infância, quando assistia a minha mãe tratar de situações vividas como secretária em uma escola estadual no interior do Pará.

Lembro da espera diária da chegada do trabalho. Enquanto eu passava a manhã toda dividido entre os deveres de casa e a programação de desenhos animados na TV, minha mãe atuava em uma escola na periferia de Bragança-PA sujeita aos mais diversos problemas sociais. Ela trocava de roupa e ia direto para debaixo do chuveiro e eu me jogava na cama dela e indagava sobre como havia sido o dia. Gravidez, drogas, fome, agressão, intrigas, poucos recursos. Mas também, solidariedade, missão, compromisso, amor, entrega. As histórias que me contava eram vividas por ela e por suas colegas do trabalho, a maioria mulheres. Minha mente de criança não conseguia, àquela altura, compreender tudo, mas a cada passo dado na minha formação cada elemento tomava forma e sentido.

Cresci respirando Educação. Não apenas como dedicado estudante que era; qualquer nota que não fosse 10 era motivo de desapontamento e esforços para conquistá-lo nas próximas avaliações. À mesa, na hora do almoço, ou ao receber visitas, sempre vinha à tona algum assunto que envolvia a Escola onde minha mãe trabalhava. Isso era tão presente que os meus próprios presentes eram convertidos em livros, enciclopédias, revistinhas em quadrinho. Minha mãe transmitia para mim o que ela vivia diariamente, e sou eternamente grato por isso. Porém, desde cedo, já trazia algumas convicções sobre meu envolvimento com a Educação, e nenhuma delas perpassava pela docência, apesar de um pouco à frente eu experimentar o desafio que é o exercício dessa indispensável profissão na sociedade.

Quando ingressei na Comunicação, a atenção, a preocupação e a necessidade de contribuir com a Educação ficaram guardadinhas. Tinha encontrado aquilo que eu queria ser e fazer, mas isso nunca sobrepôs o entendimento sobre a importância e carência que o nosso país vive na Educação. Por vezes, através de cursos e formações complementares, me deparei com o processo de ensino-aprendizagem, o que me levou há poucos anos pesquisar e desejar o ingresso em um programa de Mestrado em Educação. Trabalhando na iniciativa privada, a possibilidade de realizar uma pós-graduação stricto sensu era quase um luxo, com raras exceções, ainda mais quando não se trabalha no mesmo município onde se vive. Mas a vida nos reserva surpresas, e uma delas foi a aprovação em concurso público para um órgão federal dedicado exclusivamente à Educação: o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará.

Tudo emergiu. Aquilo que havia sido nutrido na infância tornou-se mais forte ainda. Dois meses após tomar posse, surgiu o Edital do PROFEPT. A cada leitura em preparação ao Exame Nacional, uma descoberta analítica diferente que reforçava o quanto eu poderia contribuir com a Educação como comunicólogo. Porém, ainda existia uma lacuna: como? Foi aí que cheguei à Educomunicação. Confesso que, em meus devaneios, o termo surgiu em minha mente como se o tivesse criado naquele momento de insight. E foi a partir de uma rápida pesquisa no Google que descobri a produção científica de mais de 10 anos por um grupo de estudiosos da USP – Universidade de São Paulo. Segundos de êxtase. Na verdade, ainda estou nesse estado de encantamento a cada artigo, trabalho e projeto que tomo conhecimento.

O ser humano tem a necessidade de se sentir parte, e nada melhor do que se unir a quem tem propriedade e competência para se assumir como tal. Tomei coragem, mesmo diante do tímido currículo na área acadêmica, e solicitei minha participação em nada menos do que na Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação, dirigido por pesquisadores e profissionais ligados a USP. O tempo passou e já estava conformado em não ter sido aceito. Mais uma vez as surpresas da vida batem à porta. Nesta semana, recebi a informação que minha solicitação foi aprovada e passei a ser membro da ABPEducom <3.

Não é destino, nem determinismo. Porém, as experiências e os contatos que temos na infância dizem muito sobre o que somos agora ou o que buscamos ser/ter. Hoje, futuro mestrando em Educação Profissional e Tecnológica (as matrículas iniciam em agosto/2018) e, se tudo der certo, mais futuramente, doutorando em Educomunicação, compreendo que sou a unidade de um fragmento de coisas apreendidas ao longo do caminho com minha mãe, familiares, amigos, colegas da escola e individualmente em cada grupo social do qual participei. Os desafios, nem me dou o trabalho de mensurá-los porque sei que não serão poucos, mas a satisfação em poder contribuir com Educação, ah… Essa sim é a minha grande motivação.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *